O Neopop Festival em Viana do Castelo, uma das mais proeminentes celebrações de música eletrónica em Portugal, encerrou a sua 17ª edição com chave de ouro. Tive o privilégio de estar presente nos três dias do festival, e posso afirmar, sem sombra de dúvida, que esta foi uma das experiências mais marcantes que já vivi. Para qualquer amante de techno, o Neopop é uma meca, um evento imperdível que se destaca não apenas pelo seu lineup extraordinário, mas também pela atmosfera única que consegue criar, colocando Viana do Castelo no mapa dos festivais internacionais de música eletrónica.
A localização: Forte de Santiago da Barra
O cenário do festival, o icónico Forte de Santiago da Barra, em Viana do Castelo, oferece uma localização incomparável que combina história e modernidade. Situado junto ao mar, o forte transforma-se num ponto de encontro para milhares de fãs de techno vindos de mais de 50 países. A fusão da arquitetura histórica com os sons vanguardistas da música eletrónica cria uma experiência imersiva que é difícil de descrever em palavras. O festival não é apenas sobre música; é também sobre o ambiente, a vibração que se sente no ar e a comunhão entre pessoas de diferentes partes do mundo que se unem por um amor comum pela música eletrónica.
Abertura Explosiva – Quinta-feira, 8 de Agosto
A primeira noite do festival foi, simplesmente, avassaladora. Desde o momento em que pisei o recinto, pude sentir a energia no ar. O Neo Stage foi o palco central desta noite, e foi lá que a DJ Indira Paganotto deu início ao espetáculo com uma mistura explosiva de underground techno e psy trance. A multidão, composta por rostos ansiosos e cheios de expectativa, foi imediatamente capturada pela intensidade da sua performance.
Nico Moreno foi o próximo, e a sua abordagem inovadora ao techno industrial não deixou ninguém indiferente. A sua transição para um som mais cru e pesado deu o tom para o que estava por vir, preparando o terreno para Joseph Capriati, que fechou a noite com um set de techno grooveado, mostrando uma mestria incomparável em palco. Capriati, conhecido pela sua habilidade em manipular a pista de dança, entregou uma performance que ressoou profundamente entre os presentes.
No Heineken Anti Stage, o ambiente era igualmente eletrizante. Ivan Smagghe trouxe um set envolvente, onde os seus vinis escuros criaram uma atmosfera densa e hipnótica. Jennifer Cardini continuou a noite com uma seleção de house sedutor, enquanto KETTAMA encerrou a noite com batidas infecciosas que mantiveram a multidão a dançar até o sol nascer.
O ponto alto do festival – Sexta-feira, 9 de Agosto
Se a primeira noite foi intensa, a segunda elevou o festival a um novo patamar. Com os bilhetes esgotados antes da abertura das portas, a expectativa estava no auge, e o festival não desapontou. MOCHAKK, a estrela brasileira, foi o responsável por iniciar a noite no Neo Stage, e a sua exploração dos limites do techno deixou todos de boca aberta. A sua capacidade de misturar géneros e criar uma narrativa musical complexa fez deste um dos momentos mais memoráveis da noite.
A seguir, Jeff Mills e Salbany trouxeram a essência de Detroit para Viana do Castelo, com um set que capturou a alma do techno. Foi um verdadeiro tributo às raízes do género, e a multidão respondeu com uma energia contagiante. Chris Liebing e Luke Slater mantiveram o ritmo alto, trazendo um techno atemporal ao palco, enquanto Klangkuenstler explorou as tendências mais atuais, oferecendo um olhar sobre o futuro do género.
No Heineken Anti Stage, Freddy K subiu ao palco com o seu techno de 360°, elevando a energia a novos níveis. Hector Oaks continuou a festa com batidas inconfundíveis, mantendo a pista de dança cheia de rostos sorridentes e passos de dança incansáveis. A noite culminou com Dax J, cujo techno cru e implacável proporcionou o encerramento perfeito para mais um dia de festival.
Um encerramento memorável – Sábado, 10 de Agosto
No último dia do festival, o Neopop continuou a surpreender e a encantar. A linha de artistas, que incluía nomes como Amelie Lens, Richie Hawtin e Josh Wink, deixou uma marca indelével em todos os presentes. As suas performances foram um verdadeiro passeio pelo espectro completo do techno, combinando uma atitude visionária com um profundo conhecimento da história da música eletrónica.
FJAAK, com uma performance áudio-visual impressionante, e Sama Abdulhadi, que fechou o festival com um final espetacular, garantiram que o Neopop 2024 terminasse em grande estilo. O público ficou com a sensação de ter participado num evento histórico, algo que será difícil de replicar.
No Heineken Anti Stage, o sábado reservou alguns dos momentos mais aguardados do festival. Os sets a quatro mãos de Interstellar Funk e Priori, bem como de Lewis Fautzi e Oscar Mulero, provaram que a colaboração em palco pode levar a música a novas alturas. As atuações ao vivo de KI/KI e Mary Laake apontaram para uma nova direção contemporânea na música de dança, fechando a noite com uma nota inovadora e promissora.
O Neopop 2024 foi, sem dúvida, uma edição histórica. Com uma produção impecável, um lineup diversificado e uma atmosfera única, o festival reafirmou o seu estatuto como uma referência global na música eletrónica. A combinação de artistas de topo, um público dedicado e uma localização que faz jus à grandiosidade do evento criou uma experiência que ficará para sempre na memória de todos os que tiveram a sorte de estar presentes.
A expectativa para a edição de 2025 já começa a crescer, e com razão. O Neopop não é apenas um festival; é uma celebração da música, da cultura e da comunidade global que se forma ao redor do techno. Para todos os amantes da música eletrónica, esta é uma data a marcar no calendário, pois o Neopop 2025 promete ser ainda mais espetacular, continuando a tradição de excelência que tem vindo a construir ao longo dos anos. Até lá, ficam as memórias de um festival que, ano após ano, se supera e deixa uma marca indelével na história da música eletrónica.