Cólicas, distúrbios do sono, irritabilidade, obstipação, bolçar excessivo, otites. Estes são alguns dos habituais problemas dos bebés nos primeiros tempos de vida. A osteopatia pediátrica pode ajudar a resolvê-los.
Dentro da barriga da mãe, o bebé vai crescendo e o espaço diminuindo. As formas maternas vão deixando no corpo uma memória postural. Depois, vem o trabalho de parto, sujeitando o bebé a sucessivas compressões. Muitas vezes, utiliza-se ocitocina artificial para acelerar o parto, o que produz contrações irregulares ainda mais fortes do que as naturais. Por fim, se for necessário o recurso a fórceps ou ventosa, novas forças são exercidas sobre o corpo do bebé. Todos estes acontecimentos podem provocar alterações na estrutura física do recém-nascido. Normalmente não são lesões graves, nem visíveis, por isso, não são facilmente identificáveis aos olhos dos pais ou do pediatra. Mas muitos dos habituais problemas dos bebés nos primeiros dias de vida podem ter origem nestas situações.
Vanessa Faria Lopes, osteopata com especialização em osteopatia pediátrica, explica como: «Um dos ossos sujeito a grandes forças de compressão pelas contrações, bem como pela passagem pelo canal vaginal, é o occipital (osso do crânio), que se encontra situado acima da primeira vértebra cervical (pescoço). Entre o occipital e o pescoço encontra-se um pequeno espaço designado por foramen jugular. Daqui saem quatro nervos cranianos, os quais são responsáveis pela enervação do palato, da faringe, cordas vocais, base da língua, função respiratória, ritmo cardíaco e grande parte do aparelho digestivo. Se as forças do parto comprimirem o occipital, isso implicará uma compressão sobre estes quatro nervos. Isto pode originar cólicas, refluxo gástrico, bolçar excessivo, dificuldade na sucção e alteração do ritmo respiratório e cardíaco». No entanto, a osteopata faz questão de ressalvar que a cesariana não traz mais benefícios ao bebé neste aspecto. «O parto normal, por ser um processo fisiológico natural, representa, na maior parte das vezes, vantagens para o corpo do bebé.»
Consultas suaves
Na consulta, o osteopata começa por fazer uma entrevista, colocando questões aos pais sobre a gravidez e parto. Deitado numa marquesa, o bebé é observado e palpado e as alterações são reavaliadas e corrigidas, como descreve o osteopata Gonçalo Costa, também com especialização em osteopatia pediátrica: «É uma correção menos direta que nos adultos. A delicada constituição óssea e cartilaginosa dos bebés não tolera manipulações de impulso. Uma grande percentagem do trabalho com bebés é feita ao nível craniano». Ao contrário das consultas de pediatria, em que o bebé é praticamente ‘virado do avesso’ para que tudo possa ser analisado, medido e pesado, nas consultas de osteopatia reina a tranquilidade e a suavidade. «No primeiro mês, quase todos os bebés passam a consulta a dormir. Até aos três meses já têm uma atitude mais interessada. A partir dos seis meses, tornam-se mais participativos», conta Gonçalo Costa. Outra situação muito comum no recém-nascido é o torcicolo, em que o bebé mantém a cabeça quase sempre virada para o mesmo lado, conseguindo virá-la também para o outro lado, embora de uma forma muito restrita. Apesar de ser uma situação comum e que poderá desaparecer naturalmente com o tempo -não por se tratar sozinha, mas por outras estruturas a compensarem mecanicamente -, o osteopata normaliza-a corrigindo fáscias (tecido conjuntivo entre a pele e as massas musculares), músculos, crânio e coluna. Também nas otites, a osteopatia pode ser útil. «Através da manipulação craniana, obtém-se uma abertura nas trompas de Eustáquio que assim libertam o conteúdo inflamatório/infecioso, tendo as crianças melhorias significativas», explica Gonçalo Costa. Parece impossível que a osteopatia possa tratar tantos e tão diferentes problemas. Mas isto só acontece porque a osteopatia vê o corpo como um todo. É que muitas vezes a origem de um sintoma não está no local afetado. «Uma alteração no joelho vai obrigar que a anca e a bacia tenham de se adaptar. Quando a bacia e a anca atingirem o seu limite de tolerância de compensação, o corpo vai começar a exigir a mesma atitude compensatória da coluna lombar. A mesma lógica aplica-se a outras estruturas mecânicas ou viscerais.» A osteopatia pediátrica ainda é pouco conhecida em Portugal. Gonçalo Costa reconhece que a terapia «está a dar os primeiros passos». Mas é prática comum noutros países. Vanessa Faria Lopes confirma dando o exemplo da Suíça, onde em algumas das maternidades os bebés são observados pelo osteopata antes de terem alta, e do Reino Unido, onde existe um conceituado Centro Pediátrico de Osteopatia.
O QUE É A OSTEOPATIA?
É uma ciência terapêutica, cujo objectivo é promover o equilíbrio biomecânico, aumentar o bem-estar físico e a capacidade de lidar com forças externas, tais como esforço, trauma, más posturas ou stresse. A osteopatia não trata apenas os sintomas, mas procura resolver os desequilíbrios estruturais de todo o corpo que podem estar na sua origem. Teve origem no fi nal do século XIX, através do médico norte-americano Andrew Tailor Still. Não é um procedimento invasivo e utiliza apenas manipulações manuais. Em Portugal, a lei 45/2003 reconheceu a osteopatia como terapêutica não convencional, mas nunca foi regulamentada.
SITUAÇÃO EM QUE A OSTEOPATA PODE AJUDAR OS BEBÉS
– Torcicolo
– Cólicas
– Bolçar excessivo
– Choro prolongado
– Alterações do sono
– Obstipação
– Alterações da tonicidade muscular
– Alterações da forma do crânio
– Hiperactividade
– Otite
– Dificuldades na sucção
– Dificuldade da articulação de alguns sons
– Rinite
– Sinusite
– Alguns tipos de conjuntivite