De dezembro a março o vírus da gripe anda à solta. As crianças são as principais vítimas. E quanto mais pequenas, mais sintomas podem aparecer. Diarreias e alterações na pele também podem ser sinais da doença.
O vírus da gripe – o Influenza – dá-se bem com o frio, mas gosta ainda mais de aglomerados de pessoas em locais fechados, para poder passar facilmente de organismo em organismo, crescendo e multiplicando-se. É por isso que assim que o frio começa a apertar, a gripe começa a atacar. O vírus propaga-se através das vias respiratórias, que reagem produzindo muco (ranho) no nariz. De seguida, invade o corpo através do sangue e vai deixando marcas por onde passa.
Nos bebés e nas crianças pequenas, o quadro clínico é mais amplo e exuberante. A febre alta é quase sempre o primeiro sinal da gripe e assim se percebe que não se trata de uma mera constipação. Depois, podem surgir arrepios, dores musculares, dores de cabeça, mal-estar geral, prostração, dor de garganta, tosse, sintomas gastrointestinais (diarreia, náuseas ou vómitos) alterações na pele (exantema) ou conjuntivite.
«Quanto mais pequena for a criança, maior a probabilidade de aparecerem diferentes sintomas. Como nunca tiveram contacto com o vírus, ainda não adquiriram imunidade», explica Filipa Prata, pediatra na unidade de infeciologia do Hospital de Santa Maria. «Mas a febre alta costuma ser, de facto, o primeiro sintoma. Nos bebés, a gripe pode até manifestar-se com uma convulsão febril», acrescenta.
Para além de tratar a febre com antipiréticos – «nunca com aspirina» – pouco há a fazer para combater o vírus. «A terapêutica é apenas sintomática. Deve haver uma boa hidratação, através da ingestão de muitos líquidos, para ajudar a manter as secreções fluidas. E pode usar-se soro fisiológico, para desobstruir o nariz», recomenda a pediatra.
É preciso, sobretudo, paciência. Apesar de a gripe não ser uma doença perigosa, demora algum tempo a curar-se: «Ao terceiro ou quarto dia a febre deve começar a baixar, podendo durar até sete dias. Os sintomas respiratórios resolvem-se mais lentamente».
Quando ficar preocupado?
Raramente a gripe tem complicações nas crianças habitualmente saudáveis. Mas há que estar atento a possíveis sinais de alarme. «Se a febre voltar a ser alta, depois de já ter começado a baixar, se a criança tiver dificuldade em respirar, se estiver muito prostrada ou se mostrar sinais de dores de ouvido, então deverá ser observada pelo médico», alerta Filipa Prata. Os ouvidos são dos locais preferidos do vírus da gripe. Uma vez lá instalados, «danificam o revestimento das mucosas, deixando-as permeáveis a bactérias, podendo gerar uma otite média aguda».
Mais difícil do que tratar a gripe e evitar as suas complicações é preveni-la. Segundo dados da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), a gripe afecta anualmente entre 10 a 40 por cento das crianças e cerca de 0,5 a um por cento das crianças infectadas requerem internamento.
Lavar frequentemente as mãos, usar um lenço novo de cada vez que se assoa o nariz, espirrar e tossir para um lenço ou para o braço em vez de usar as mãos e evitar o contacto com pessoas infectadas são as principais medidas de prevenção da gripe. Cuidados bastante complicados de aplicar a uma criança, que mexe constantemente em tudo e que prefere andar de ranho pendurado ou limpá-lo a uma qualquer almofada em vez de assoar-se a um lenço. Não admira, assim, que as crianças sejam as principais transmissoras da gripe. Além de a prevenção ser mais difícil, passam muito tempo fechadas (nas creches e nos infantários) em contacto umas com as outras e transmitem uma maior quantidade de vírus e por um maior período de tempo. A única forma de evitar o contágio, defende Filipa Prata, é «não irem à escola».
Vacinas e antivíricos
Em Portugal, a vacina está indicada apenas para crianças com determinados problemas de saúde, como doenças crónicas dos pulmões, do coração, dos rins ou do fígado, diabetes ou outras doenças que diminuam a resistência às infecções. Nos Estados Unidos, por exemplo, a vacina é universal, embora não reúna total consenso entre os pediatras.
Na opinião de Filipa Prata são várias as desvantagens desta vacina: «A resposta à vacina é muito variável nas crianças, é preciso administrá-la todos os anos, é intramuscular e não é muito eficaz.» O mesmo se passa com os antivíricos para o tratamento da gripe. «São fármacos caros, exigem a confirmação que é gripe com base em testes e, para fazerem efeito, têm de ser administrados logo no primeiro dia da infecção. Por isso, também estão reservados para grupos de risco».
Quanto ao famoso remédio caseiro canja de galinha, a pediatra reconhece que pode fazer bem a todos. «É um líquido, portanto hidrata, é fácil de beber, por ser saboroso e quente, alivia as dores de barriga e vómitos, e alimenta, o que é bastante importante porque, com a gripe, a tendência é para o apetite diminuir.»